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Racismo religioso em estátua de Mãe Stella de Oxóssi terá protesto quinta-feira (8)

Na madrugada do último domingo (4) o monumento em homenagem a ialorixá Mãe Stella de Oxóssi foi incendiado configurando mais um caso de racismo religioso no estado

Publicado: 07 Dezembro, 2022 - 09h39 | Última modificação: 07 Dezembro, 2022 - 10h54

Escrito por: CUT BAHIA | Editado por: CUT BAHIA

Laina Crisóstomo (Twitter)
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Estátua pós incêndio

O monumento em homenagem à ialorixá, líder religiosa, Mãe Stella de Oxossis, localizado em Salvador, foi novamente alvo de crime de racismo religioso. Dessa vez, um incêndio criminoso no último domingo (4) destruiu a estátua. Entidades e organizações populares manifestaram repúdio sobre o ato e relembrarm que a última ocorrência de ataque ao patrimônio público aconteceu em 2019, quando a base da estrutura amanheceu com sinais de pichações.

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Crime de racismo religioso (2019)

 

A Bahia possui um legado histórico quanto às diversidades étnico-raciais e religiosas do seu povo. O ódio e a intolerância tem vitimado o próprio direito constitucional quanto à liberdade dos que seguem as suas vocações religiosas. Trata-se de um crime bárbaro e que remete à violação dos direitos humanos.

Inúmeras entidades manifestaram nota de repúdio. A Defensoria Pública do Estado da Bahia cita: “Em pleno dia em que a cidade de Salvador celebrou sua fé, que manifestou livremente seus cortejos, seus cultos católicos e afro-brasileiros, para Santa Bárbara e Iansã, a cidade é acometida de tamanha brutalidade. Na certeza de que os órgãos de justiça e a polícia se posicionem e se pronunciem emitimos esta nota pública e nos manifestamos quanto à imprescindibilidade de investigação e punição sobre esse ato brutal.”

A Ordem dos Advogados do Brasil (Bahia) destaca: “O fenômeno religioso é parte integrante da vida em qualquer sociedade e a laicidade do Estado brasileiro se afigura na experiência republicana como o caminho de valorização do pluralismo religioso de um povo tão heterogêneo como o nosso. Entretanto, como ataque à própria democracia brasileira, no domingo, dia 04/12/2022, a estátua de Mãe Stella de Oxóssi, obra de arte composta por esculturas do orixá Oxóssi e de Mãe Stella, uma das principais ialorixás do país, que faleceu em 2018, foi incendiada. Registra-se que as esculturas já haviam sofrido depredação anteriormente, em razão de pichação e retirada da placa de identificação.”

O Setorial Inter-religioso do Partido dos Trabalhadores (Salvador) também emitiu nota: “Concomitantemente, aguardamos ações dos órgãos governamentais que tenham por objetivo educar e conscientizar a população soteropolitana, que o respeito entre as religiões é um importante passo que precisa ser dado a fim de trilharmos um caminho sem ódio, mas sim permeado de paz, amor e respeito para a construção de uma sociedade livre de todas e quaisquer formas de preconceitos.”

Para Gilene Pinheiro, Secretaria de Combate ao Racismo da CUT-BA, em nota prioriza a conscientização como ação para evitar novos crimes de racismo religioso: “Acreditamos que somente com a conscientização da população acerca do imenso legado que as religiosidades afro-brasileiras nos presentearam, poderemos apaziguar tais ações que, como se sabe, tem como plano de fundo a ignorância em sua forma mais bruta.”, conclui.

Trajetória de Mãe Stella

O terreiro de Mãe Stella, Ilê Axé Opô Afonjá, fundado em 1910 foi tombado como Patrimônio Cultural Nacional. A ialorixá ao longo da sua vida atuou na valorização da cultura ancestral tendo oportunidade em visitar inúmeros terreiros em outras nacionalidades, a exemplo, casa de orixás em Oshogbo na Nigéria. Recebeu inúmeros prêmios e com destaque para o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia, em 2009 e também pela Universidade Federal da Bahia, quando completou 70 anos de iniciação no candomblé. Escreveu dezenas de livros, membra da Academia Baiana de Letras, cuidou da sua comunidade com iniciativas educacionais como, escola, biblioteca e museu.

Protesto

Nesta quinta-feira (8) às 9h, o Comitê Inter-religioso da Bahia promove ato por uma cultura de paz e respeito. O encontro será na Avenida Mãe Stella de Oxóssi, local onde fica a estátua atingida. A orientação da entidade é para que utilizem vestimentas na cor branca.

 

 

NOTA DA CUT BAHIA - INTEGRA

 

A CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES - CUT BAHIA, ATRAVÉS DA SUA SECRETARIA DE COMBATE AO RACISMO REPREENDE A VIOLÊNCIA RELIGIOSA CONTRA HOMENAGEM À MÃE STELLA DE OXÓSSI

 

A CUT Bahia, através da sua Secretaria de Combate ao Racismo repudia severamente os atos de violência, intolerância religiosa e racismo praticados contra um importante marco simbólico de manifestação do Candomblé nacional ocorridos no último domingo, 04/12, não por acaso, dia de celebração da Orixá Iansã, sincretizada no catolicismo sob o nome de Santa Bárbara.

Atear fogo à estátua em homenagem a Maria Stella de Azevedo Santos, Mãe Stella de Oxóssi, a quinta Ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, Bahia, foi um ato de extremo desrespeito não somente à pessoa de Stella, mas a todos os corações nos quais a sua lembrança vive.

Repudiamos também a escolha deliberada pela depredação do patrimônio público negro deste país através do vandalismo fundamentalista. Não são raros na Bahia os ataques aos centros da religiosidade de matriz africana, indícios do comportamento de um povo que ainda não aprendeu a respeitar a diversidade religiosa que compõe o seu país.

Esta secretaria sempre esteve e estará engajada pela promoção da paz e do ambiente democrático, o que a faz tratar como inadmissível quaisquer atos motivados pelo ódio, desrespeito e intolerância étnico-religiosa.

Acreditamos que somente com a conscientização da população acerca do imenso legado que as religiosidades afro-brasileiras nos presentearam, poderemos apaziguar tais ações que, como se sabe, tem como plano de fundo a ignorância em sua forma mais bruta.

Assim, repudiamos veementemente o comportamento que danificou a estátua de uma das mais importantes lideranças religiosas da história desse país e nos mantemos unidos, em apoio a todas as Casas de Santo que, com muito amor, resistem ao ódio e à intolerância.

Gilene Pinheiro
Secretaria de Combate ao Racismo - CUT Bahia