Mulheres que deixaram um grande legado em Araci e região Sisaleira
“Dizem que a mulher é o sexo frágil. Mas que mentira absurda! Eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com elas! (Erasmo Carlos)
Publicado: 19 Março, 2025 - 16h36
Escrito por: Co-autoras de Mulheres da Região Sisaleira* | Editado por: CUT Bahia

Desde a nossa adolescência e juventude, prestamos serviços voluntários à nossa cidade. Nossa motivação para realizar atividades altruístas partiu da nossa vida comunitária dentro da Igreja Católica, estendendo-se para os movimentos sociais. Depois de uma longa caminhada dentro das pastorais da Igreja Católica, fomos orientadas por padres revolucionários a construir cidadania também por meio da Doutrina Social da Igreja Romana, unindo-nos aos movimentos sociais populares. O objetivo de participarmos desses ambientes foi ampliar nossa visão sobre cidadania, direitos e justiça social, aspectos muitas vezes negligenciados pela sociedade. Assim, nossa fé se conectava com nossa razão de ser.
Nesse contexto, eu, Ezilda Barreto, Ludmila Nobre, Edneide Pereira, Maria Madalena, Gilvana Pereira, entre outras mulheres, fomos símbolos de resistência contra as injustiças sociais, as desigualdades e o machismo estrutural da cultura brasileira.
Durante esse período, travamos lutas incansáveis em nossa cidade, no Território do Sisal, e além dessa região, na busca por direitos e pelo cumprimento de deveres. Realizamos serviços voluntários que fortaleceram e beneficiaram toda a comunidade de Araci e de outras cidades, com ações diversas, tais como: participação na rádio comunitária, engajamento em grupos de agricultores, movimentos de mulheres e juventudes, atuação nos Conselhos Municipais (de educação, da merenda escolar), apoio a grupos produtivos de mulheres, estímulo ao crédito jovem, construção do PNDE junto ao MEC e realização de conferências municipais de juventude, não apenas em Araci, mas também em outras localidades da Bahia.
Além disso, cooperamos nas conferências de assistência social, educação e cultura, e nos mobilizamos pela criação de Coletivos de Jovens durante 12 anos, desenvolvendo projetos que possibilitaram o protagonismo juvenil, como o acesso às universidades e concursos públicos. Um exemplo foi o Coletivo Regional Juventude Participação Social (CRJPS), por meio do qual trouxemos um curso preparatório para o ENEM para Araci, com a mediação de políticos como a vereadora Leninha e o deputado federal Emiliano José, evitando que os jovens da zona rural ficassem excluídos do processo seletivo, já que, até então, as provas eram aplicadas apenas em Feira de Santana, o que dificultava o acesso de muitos estudantes.
Sabemos que muitos jovens não têm recursos para viajar ou cursar uma faculdade em outra cidade. Diante disso, durante a gestão do ex-prefeito Zedafó, com o apoio de algumas vereadoras, fomentamos a instalação da Faculdade COC a distância, garantindo ensino superior tanto para a sede quanto para a zona rural. Também criamos o Conselho Municipal de Juventude e os Coletivos de Jovens e lutamos, na Câmara Municipal, pelo direito ao transporte universitário para os estudantes que precisavam estudar fora do município.
Como parte de nossas ações, criamos o projeto Consciência Negra (Beleza Negra), promovido na praça de Araci, com o objetivo de combater o racismo e a discriminação. Realizamos um estudo sobre a comunidade quilombola da Queimadinha, em parceria com o historiador Humberto de Santana Júnior (hoje doutor na área). Além disso, organizamos diversos intercâmbios para jovens de vários territórios de atuação dos Coletivos, levando-os a diferentes Estados e cidades, como Santa Catarina, Pernambuco, Brasília, Juazeiro, Vitória do Espírito Santo e Salvador, para promover troca de experiências, empreendedorismo e protagonismo juvenil.
Com o padre João Eudes, ex-pároco da Paróquia de Araci, criamos a Semana de Cidadania, realizada em setembro, com atividades para a comunidade araciense, culminando no tradicional "Grito dos Excluídos", promovido anualmente pela Igreja Católica em todo o Brasil. Tivemos ainda a oportunidade de participar do Fórum Social Mundial, tanto no Rio Grande do Sul quanto em Belém do Pará.
Nossa luta também incluiu a permanência do projeto CAT (Conhecer, Analisar e Transformar) em nosso município e região, focado na educação voltada para o campo. Defendemos a educação de jovens e adultos no contexto das cadeias produtivas, por meio da economia solidária, e, junto com a professora Edite Farias, da UNEB, fundamos o Fórum de Educação de Jovens e Adultos na Região do Território do Sisal, promovendo diversos encontros em Araci e Conceição do Coité.
Além disso, batalhamos pela criação da rádio comunitária, ao lado de seu Martinho, padre João Eudes e Zé Socorro. Comprometidas com a saúde mental da comunidade, promovemos a Semana de Saúde Mental e Psicologia dentro das escolas, associações e programas de rádio.
Vinculadas à Igreja Católica, criamos a Pastoral da Juventude Rural (PJR), em parceria com integrantes da Via Campesina e das Pastorais Sociais. Esse projeto foi originalmente criado no Rio Grande do Sul para organizar os jovens do campo e fortalecer a produção de alimentos saudáveis. Também trouxemos cursos de capacitação para empreendedorismo e grupos produtivos na APAEB, tanto para jovens quanto para agricultores, com apoio de Tatiana Veloso e Jerônimo Rodrigues, atual governador da Bahia.
Como mulheres autênticas e emancipadas, sempre nos posicionamos em defesa dos direitos das mulheres, das crianças, dos adolescentes, dos jovens, dos trabalhadores(as) rurais e urbanos, além de lutar por educação de qualidade, saúde acessível para todos e preservação do meio ambiente. Para garantir esses direitos, ocupamos as ruas, câmaras de vereadores, sindicatos, associações, APAEBs e a Igreja, sempre com o objetivo de fazer valer nossas reivindicações, liberdade de expressão e construção de cidadania por meio do direito e da justiça.
Por fim, trouxemos para Araci e para a diocese de Serrinha o Movimento das Mães que Oram pelos Filhos, agregando cerca de 10 cidades na Forania e formando cerca de 40 grupos de mães.
Não se faz luta sozinho(a)! Sempre foi preciso unir forças para travar batalhas, e contamos com pessoas iluminadas por Deus para essa missão. Entre elas, destacamos: Dom José Ioniton Lisboa (bispo araciense); Padre João Eudes Rocha de Jesus; Padre Elias, de Conceição do Coité; Albertino, do MOC; Professora Francisca, da UEFS e do MOC; Professor Clodoaldo Paixão, da UEFS; Maria Madalena Oliveira Firmo (Leninha de Valente), presidenta da CUT-BA; Emanuel Sobrinho, historiador da UEFS e formador de lideranças juvenis.
Hoje, no Dia Internacional da Mulher, como mães, professoras, assistentes sociais, advogadas, psicólogas, presidenta da CUT-BA, vereadora, exigimos respeito à nossa história de luta pela democracia, direitos e justiça social, bem como à nossa atuação na Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Raso.
Diante do exposto, neste Dia Internacional da Mulher, como mulheres e mães de luta — professoras, assistentes sociais, advogadas, psicólogas, presidenta da CUT-BA, vereadora, entre outras — exigimos respeito à nossa trajetória na defesa da democracia, dos direitos e da justiça social, bem como pelo nosso compromisso com a comunidade e nossa atuação na Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Raso.