MENU

Angústias de um 1º de Maio: O que resta ao trabalhador brasileiro 134 anos depois?

Em artigo as Secretarias de Combate ao Racismo e Mulheres promovem uma reflexão sobre os direitos suprimidos da classe trabalhadora e sua relação com um primeiro de maio em meio à pandemia do COVID-19.

Publicado: 08 Maio, 2020 - 21h38 | Última modificação: 08 Maio, 2020 - 21h50

Escrito por: Secretaria de Combate ao Racismo e Secretaria de Mulheres

DILVULGAÇÃO
notice
O que resta ao trabalhador brasileiro 134 anos depois?

No maior país da América Latina, o dia do trabalhador, (sim, trabalhador, não é dia do trabalho como querem nos empurrar garganta abaixo), significa estar atento às manobras executadas pelo empresariado através de seus fantoches políticos que, como serpentes, aproveitam-se de toda e qualquer oportunidade para sujeitar os trabalhadores a regimes trabalhistas pautados pela exploração e ausência de garantias.

No Brasil, desde o golpe de 2016, se observa a acentuação de um processo bizarro de inversão dos sentidos, o trabalhador com seus direitos torna-se o vilão da economia, e aquele empresariado que lucra com a força de trabalho da população, sem gerar riqueza do seu próprio suor vira o novo mocinho. No país onde o presidente da república dizia em campanha que o trabalhador deve escolher entre direitos ou emprego, o que se vê em 2020 é o trabalhador sem nenhum dos dois.

Em 2020, o fator coronavírus aliado ao oportunismo das classes dominantes opera como propulsor das nossas desgraças legislativas. Não bastassem a reforma da previdência, que nesse momento relega milhões à informalidade, bem como a reforma trabalhista, chovem propostas de lei, pedidos, alucinações e histerismos até mesmo de quem não é patrão, unidos em uma só voz: “ mais cortes!” A ideologia da tesoura parece ter feito bem o seu trabalho de alienação no Brasil, mas como a história nos prova, a ignorância passiva não dura para sempre. Com os efeitos negativos da crise, trabalhadores de todas as classes sociais percebem o abismo que os cerca: demissões em massa, suspensões de contrato e redução salarial,quanto a esse último ataque, nos diz o chefe do executivo, é pra agradecer.

E por falar em agradecer, o escravagismo moderno dá as caras: Em  Campina Grande, trabalhadores “coagidos a orar de joelhos”  são obrigados por seus patrões a se ajoelharem de máscaras pelas calçadas da cidade e implorar por seus empregos, uma cena revoltante e deprimente, reflexo cristalino de classes sociais que negociam cada vez menos em condições equânimes.

Neste primeiro de Maio que é universal e remonta a 1886, em Chicago, nos EUA, quando os trabalhadores estavam sujeitos a jornadas exaustivas e mal remuneradas, é preciso pensar o que nos assola agora? O que outros países de porte como o nosso estão fazendo para enfrentarem as crises econômicas e a atual crise de saúde? Será que estão atacando os trabalhadores com a mesma intensidade ou os estão protegendo?

O mundo têm andado no mesmo caminho na última década, no caminho do ataque ao trabalhador, empobrecendo-o, adoecendo-o, limitando o seu poder de compra e mobilidade social dia após dia. Nesse momento com o coronavírus, até mesmo os países com as maiores políticas de austeridade reconhecem a necessidade de mexer em seus cofres para amparar os trabalhadores e empresas,

o Brasil também precisa acompanhar o mundo nos momentos em que sua população mais precisa do Estado. Poderíamos aproveitar esse momento único e dar um exemplo de avanço civilizacional para o mundo, promovendo através do auxílio emergencial a promoção da renda básica universal, incluindo finalmente milhares de seres humanos desempregados e historicamente excluídos pela herança escravocrata brasileira, mulheres e homens negros da periferia, autônomos, pessoas em situação de rua, e outras tantas categorias as quais nenhuma política de emergência alcança. Ao menos uma vez na vida, todos fomos trabalhadores, e quem não o é está em vias de ser, assim, o primeiro de maio é sempre um convite à organização coletiva para nossa geração e a dos nossos filhos. Precisamos nos mobilizar para recuperar o que é nosso, o legado construído arduamente durante mais de 100 anos desde o primeiro dia do trabalhador e que nos têm sido sequestrado diariamente

O trabalhador quer apenas os seus direitos de volta, pois os privilégios já sabemos de quem são. À luta!

 

Lucivaldina Brito
Secretaria de Mulheres CUT Bahia

Gilene Pinheiro
Secretaria de Combate ao Racismo CUT Bahia