"(...) Minha negritude no uma pedra     
E sua surdez arremessada contra o clamor do dia     
Minha negritude no uma gota d`gua morta     
Sobre o leo morto da terra     
Minha negritude tambm no uma torre ou uma catedral     

Ela mergulha na carne vermelha do solo     
Ela mergulha na carne ardente do cu    
Minha negritude perfura a aflio de seu sossego correto."    

 mundo perdeu, nesta quinta-feira (17), um dos maiores cones da literatura caribenha e da luta contra o racismo, o poeta martinicano Aim Csaire. Aos 94 anos, Aim morreu devido a problemas cardacos em um hospital de Fort de France, na Martinica, onde estava internado h uma semana.

Aim nasceu em uma famlia pobre, na cidade de Basse-Pointe, na Martinica, em 26 de junho de 1913. Apesar das condies sociais, os pais de Aim sempre investiram na educao dos filhos. Para facilitar os estudos das crianas, mudaram-se para Fort de France, capital do pas, onde Aim estudou at os 18 anos. Depois, terminou os estudos em Paris, onde estudou literatura latina, grega e francesa.

Em Paris, Aim Csaire conheceu o poeta senegals Lopold Senghor, que se tornaria o primeiro presidente de Senegal aps a independncia. Senghor e Leon Gontran Damas, da Guiana Francesa, contriburam com Aim Csaire na formulao do conceito de Negritude e na expanso desse movimento. A Negritude foi definida por eles como a "afirmao de ser negro e o orgulho disso".

O pensamento de Aim Csaire sobre a restaurao da identidade dos negros foi exposto pela primeira vez no livro Cahier d`un retour au pays natal (Caderno do retorno ao pas natal), de 1947. O livro um misto de poesia e prosa potica.

No perodo da Segunda Guerra Mundial, Aim foi preso com o escritor surrealista Andr Breton, que o encorajou a usar o surrealismo como uma arma poltica. Cahier d`un retour au pays natal foi descrito por Breton como "o maior monumento lrico do nosso tempo".

Aps o final da guerra, Aim dividiu o seu tempo entre Paris e a Martinica. Como membro do Partido Comunista, participou em aes polticas a apoiou a descolonizao das colnias francesas na frica. Com sua esposa, Suzanne Roussi e com outros intelectuais martinicanos, fundou o jornal cultural Tropiques, no qual publicava suas poesias. Em 1945, Aim Csaire foi eleito prefeito de Fort de France. Em 1956, desliga-se do Partido Comunista e funda, dois anos depois, o Partido Progressista Martinicano.

Em 1955, escreveu o Discours sur le colonialisme (Discurso sobre o colonialismo), atacando a civilizao europia e o racismo colonial. No texto, Csaire compara a relao entre os colonizadores e os colonizados com a relao entre os nazistas e suas vtimas. Esse discurso deu a sua obra um carter universal.

Aim Csaire tambm escreveu peas para teatro e possui uma vasta obra literria. Ele se definia "fundamentalmente poeta, mas poeta comprometido" e "negro, negro, desde o fundo do cu imemorial".

Por Marlia Matias de Oliveira, Especial para o Portal Palmares

FONTE: Ministrio da Cultura Fundao Cultural Palmares www.palmares.org.br