Não é possível falar do mundo do trabalho sem falar de raça. A classe trabalhadora brasileira é, majoritariamente, negra — homens e mulheres que constroem cotidianamente este país, mas que continuam sendo os corpos mais explorados, desvalorizados e invisibilizados.
Por isso, neste Novembro Negro, é urgente reafirmar que a luta antirracista é uma luta de classe e que não há justiça social sem o enfrentamento ao racismo estrutural que organiza a divisão do trabalho no Brasil.
Mesmo reconhecendo que a pauta racial deve ser permanente, o mês de novembro nos convoca à reflexão coletiva e à ação concreta dentro dos sindicatos, nas mesas de negociação e nos espaços formativos.
É tempo de reafirmar o compromisso com a igualdade racial no trabalho e na vida.
É tempo de equidade.
Tempo de reparação!
As desigualdades persistentes revelam o retrato do racismo no mundo do trabalho — e os dados falam por si.
Segundo o IBGE (PNAD Contínua, 2023), pessoas negras correspondem a 56% da força de trabalho no Brasil, mas continuam concentradas nas ocupações mais precarizadas, com menores salários e menos acesso a direitos.
O rendimento médio de trabalhadores negros é 40% inferior ao de trabalhadores brancos;
Entre as mulheres negras, essa desigualdade é ainda mais cruel: elas ganham, em média, 45% do que ganham os homens brancos;
No serviço doméstico, quase 70% das trabalhadoras são negras, em um setor marcado pela informalidade e pelos baixos salários;
Na ocupação de cargos de liderança, apenas 6% dos executivos são pessoas negras.
Esses números não são meras estatísticas — são o reflexo direto do racismo estrutural que ainda define quem tem acesso à educação, aos espaços de decisão e à ascensão profissional.
Apesar de alguns avanços nas políticas afirmativas e na ampliação do debate sobre diversidade, o desafio permanece: garantir oportunidades reais e igualdade de condições para a população negra no mundo do trabalho.
É verdade que o movimento sindical tem avançado ao incorporar a pauta racial em suas agendas, criar secretarias de combate ao racismo e realizar formações. No entanto, é preciso ir além do discurso.
O desafio agora é fazer com que a questão racial seja transversal a todas as discussões: nas campanhas salariais, nos acordos coletivos, nas comissões de igualdade de oportunidades, na comunicação sindical e nas negociações com o patronato.
A luta contra o racismo não é paralela à luta sindical — ela é parte essencial da defesa da classe trabalhadora.
Nesse sentido, o Novembro Negro é um tempo de mobilização e visibilidade. É hora de cobrar das empresas e dos gestores públicos um olhar antirracista nas relações de trabalho e de fortalecer o compromisso das entidades sindicais com essa pauta.
Para isso, sugerimos algumas ações para os sindicatos durante o Novembro Negro:
Promover rodas de conversa, lives e seminários sobre raça, gênero e trabalho, com destaque para experiências de trabalhadores e trabalhadoras negras;
Realizar campanhas de comunicação com o lema “A classe trabalhadora é negra”, divulgando dados e reflexões sobre as desigualdades raciais;
Incluir cláusulas de promoção da igualdade racial nas pautas de negociação coletiva;
Fortalecer a presença de pessoas negras nas direções sindicais e nos espaços de representação;
Realizar formações internas sobre racismo estrutural, branquitude e equidade no mundo do trabalho;
Valorizar referências negras do movimento sindical e da luta popular, resgatando a memória histórica da resistência;
Dialogar com a base trabalhadora sobre o impacto do racismo na vida cotidiana — do acesso ao emprego às condições de permanência e ascensão;
Estabelecer parcerias com movimentos negros, universidades e coletivos antirracistas, ampliando o alcance das ações.
Defender a classe trabalhadora é também enfrentar o racismo em todas as suas formas.
O patronato precisa ser cobrado — não apenas por melhores salários, mas por equidade racial, oportunidades e respeito.
Que este Novembro Negro seja mais do que simbólico: que seja um tempo de consciência, compromisso e transformação no mundo do trabalho.