Escrito por: Cléber Silva

Desafios da Comunicação Popular e o Impacto da IA no mercado de trabalho

Na manhã do segundo dia (12) do Encontro de Comunicação da Escola Nordeste, o foco esteve nas experiências de comunicação no campo progressista. A secretária de Comunicação da CUT Nacional, Maria Faria, apresentou a linha editorial e os canais de comunicação da entidade, destacando os desafios de manter uma comunicação sistemática no meio sindical. Ela também elogiou a Escola Nordeste pelo avanço na abordagem da comunicação em rede.

“Temos que pensar nossa produção de conteúdo conforme a necessidade de cada plataforma”, lembrou Maria. A Secretaria de Comunicação da CUT finalizou afirmando que está sendo planejado um Encontro Nacional de Comunicação, envolvendo as CUTs de todo o Brasil. A Bahia, através do assessor Cléber Silva, sugeriu que o encontro seja realizado no formato das conferências, começando pela base, nos municípios, passando pelos estados e finalizando em nível nacional. Esse formato facilitaria o debate sobre estratégias de comunicação em rede e promoveria uma maior integração cutista.

Na parte da tarde, o evento foi retomado com mais debates sobre experiências de comunicação. O baiano Denis Soares apresentou seu canal pessoal chamado “Trampo” e incentivou sindicalistas a produzirem conteúdos.

“Não se preocupem muito com estética. Comecem a fazer, a produzir conteúdo. Depois, vão melhorando esteticamente o canal”, convidou Denis.

A professora Bárbara Coelho, da APUB na Bahia, falou sobre Inteligência Artificial (IA) e seu impacto no mundo do trabalho.

“Antigamente, o ‘chão de fábrica’ era o mais afetado pela tecnologia. Hoje, as IAs impactam, sobretudo, áreas com profissões de ensino superior, incluindo TI, advocacia e medicina”, afirmou a professora.

Segundo sua pesquisa, o impacto da IA no mundo do trabalho no Brasil já chega a 37%. Para ela, há uma demanda emergente por requalificação de habilidades. Ela alerta que, à medida que a IA avança no mundo do trabalho, também cresce a concentração de renda e as desigualdades.

Em seguida, Vinícius Sobreira apresentou a experiência do jornal Brasil de Fato, destacando que sua linha editorial tem um posicionamento claro.

“Sabemos que a mídia defende um discurso de notícias imparciais, mas, quando a coisa aperta, eles demonstram na prática seu lado. E não é o lado do trabalhador”, denunciou Vinícius.

Para ele, o jornal não está preocupado com a forma tradicional de construção do texto. Além disso, ele destacou que até os algoritmos têm lado, pois são formatados por quem tem um posicionamento político. Por isso, o planejamento de campanhas e das informações a serem produzidas é essencial. Vinícius criticou o modelo de comunicação tarefeira que a maioria dos sindicatos desenvolve hoje.

“Preocupem-se com o conteúdo e com a política de comunicação, pois nem toda forma de apresentação de conteúdo consegue driblar o algoritmo. Os sindicalistas deixaram de apresentar conteúdos sobre outras formas possíveis de sociedade. Hoje, há jovens no Uber sonhando em ficar ricos, mas estão jogados à própria sorte no trabalho precarizado”, alertou.

A vereadora Kari Santos, a mais jovem eleita em Recife pelo PT, relatou como começou sua atuação nas redes sociais para defender o Partido dos Trabalhadores e debater o cotidiano da classe trabalhadora. Isso acabou lhe dando notoriedade.

“O grande problema da esquerda é que não sabe se comunicar com a classe trabalhadora de hoje, mantendo a mesma forma de comunicar de antigamente. Em vez de falar de privatização, diga que estão vendendo”, explicou.

O trabalho de Kari nas redes possibilitou seu avanço para a disputa institucional, levando-a a ser eleita a mais jovem vereadora de Recife, com 10 mil votos na última eleição. Sua trajetória se deu por meio de uma nova forma de comunicação com a classe trabalhadora. Ela afirma que os sindicalistas precisam se reinventar, pois não existe receita mágica.

“Eu gravava com um celular pendurado na janela de casa, editava no ônibus e, quando chegava à universidade, onde estudava pedagogia, subia o vídeo na rede. Não tinha equipamentos tecnológicos caros, nem recursos de produção, nem tempo. O que eu tinha era vontade de fazer”, relatou Kari.

Uma ideia parecida com a de Glauber Rocha: uma câmera na mão e uma ideia na cabeça.

O Encontro de Comunicação da Escola Nordeste termina na manhã desta quinta-feira (13), com um debate sobre a formação de uma rede de comunicação cutista.