Comucidade: Projeto trabalha psicologia social e leva conscientização à comunidade do Pilar, em Salvador

Desenvolvido por estudantes do curso de psicologia da Ufba, projeto não tem incentivo financeiro e se desenvolve com recursos de ações sociais

Um grupo de estudantes com muita vontade de fazer a diferença. De maneira rápida e rasteira, assim pode ser definido o Comucidade, projeto de Extensão do Curso de Psicologia da Universidade Federal da Bahia. A ideia nasceu há quase seis anos, quando, ao cursar uma disciplina da grade curricular, nos primeiros semestres do curso, a estudante Deane de Jesus teve contato com a comunidade do Pilar, no bairro do Comércio, em Salvador. A disciplina acabou, mas a vontade da estudante em desenvolver um trabalho na comunidade, não.

Alguns anos se passaram até que ela organizasse um grupo e retomasse a ideia de realizar um trabalho de psicologia social no local. Mas o que é psicologia social?  A psicologia social é uma área da psicologia que busca compreender como as pessoas se comportam nas interações sociais, ou seja, como elas pensam e se relacionam umas com as outras e com elas mesmas. Levar esse entendimento às pessoas é o principal objetivo do projeto, que ganhou forma e passou a ser executado há dois anos.

O grupo é pequeno, mas a vontade de transformar é grande. São dez pessoas, das quais seis são estudantes. “Nosso objetivo é ser instrumento da promoção de a autonomia social e subjetiva para as pessoas da comunidade do Pilar. Atuamos como uma ponte entre os serviços de atenção básica à saúde e outros agentes sociais que não chegam à comunidade por medo e até mesmo por preconceito”, explica Deane.

A missão não é fácil e o grupo se vira como pode. Embora seja uma ação da Universidade, não recebe apoio financeiro da instituição. No segundo ano de desenvolvimento foi realizado com recursos do curso de introdução à psicologia latino-americana, desenvolvido pela estudante em parceria com dois professores da Universidade, que cederam a remuneração que teriam direito para a manutenção do projeto. “Atualmente a gente vende bottons personalizados, rifas... mas já vendemos outros acessórios e alimentos para angariar fundos para manutenção do Comucidade”, diz Ane Silva, estudante de psicologia e voluntária do projeto.

Os esforços têm valido a pena. Em apenas dois anos o Comucidade conseguiu elevar a participação dos agentes de saúde dentro da comunidade, promoveu atividades culturais, debates, e ofereceu aos moradores a possibilidade de assistir a uma sessão de cinema. Para muitos, o primeiro contato com a sétima arte. “O nosso trabalho não é de assistencialismo. É de conscientização, organizações e práticas coletivas e comunitárias e enfrentamento ao racismo e opressões, pilares da psicologia social, conta Ane. “Nosso objetivo é construir um projeto político junto à comunidade para que ela ganhe autonomia e seja capaz de se desenvolver e se afirmar sem a necessidade da nossa intervenção”, complementa Deane.

Mesmo sendo uma atividade da UFBA, o Comucidade não é restrito aos estudantes da federal baiana. Voluntários de outras instituições e até profissionais de áreas como saúde, educação e comunicação podem atuar no coletivo, que realiza seleções periodicamente.  Supervisionado pela professora Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano Thaís Goldstein, o Comucidade participou do Fórum Social Mundial, realizado no campus da Ufba em Ondina. Além de levar informações sobre o projeto, os voluntários comercializaram bottons e acessórios na Tenda armada em frente ao PAF III para manter as despesas básicas do projeto.