Escrito por: Maria Madalena Firmo, Gilene Pinheiro, Ana Carla Fagundes.

A cor do racismo.

A vulnerabilidade da vida paira sobre os corpos de jovens negros.

CUT BA
imagem de Leninha, Ana carla e Gilene Pinheiro.

No cenário atual, existe um acirramento da luta antirracista e de classes, típica da configuração geopolítica do modo de produção capitalista com sua concepção neoliberal na lógica neofascista, que impõe uma realidade de desigualdades, exclusão social e uma segurança pública com racismo institucionalizado. É desesperador saber que estamos falando de um estado onde 80,8 % da população é negra, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o ano de 2022, e que no mesmo temos uma segurança pública racista que promove a pena de morte para o povo negro, através dos seus seguidos casos de “erros ” de abordagens, como o que aconteceu com o operador de equipamento leve do Consórcio Bel Cabula, Welson Figueiredo Macedo, de 29 anos, morto pela polícia militar quando retornava do trabalho para casa uniformizado. A questão da segurança pública e sua estreita relação com a juventude negra é um tema urgente na Bahia onde os índices apontam que são maioria entre alvos e vítimas da segurança pública, em que a instituição que em tese deveria proteger a população negra e trabalhadora, os fazem refém das desigualdades sociais e raciais, com respaldo legislativo e laboral, como treinamentos violentos nas corporações, que ensinam a identificar criminosos pela cor da pele.
Dados do boletim "Pele Alvo: a cor que a polícia apaga", publicado pela Rede de Observatórios de Segurança em 2022, traz a informação que das 616 pessoas mortas em decorrência de intervenções de agentes de segurança do Estado da Bahia em 2021, 603 eram negras (528 pardas e 75 pretas), o que representa um total de 97,9% de negros, se desconsiderarmos os casos em que não há informação sobre a raça da vítima. Lancinante a vulnerabilidade dos corpos negros e jovens nas periferias, sempre cercados de medo, precauções, limitações e recomendações, sempre conduzidos por regras de vestimenta, de horários e de “boa aparência” que nem sempre lhes garante o direito fundamental de ir e vir. O cenário é doloroso, casos frequentes de abordagens agressivas e violência policial marcadas por racismo e marginalização da juventude negra, apontam para necessidade urgente de que o Estado busque implementar medidas de treinamento e controle da atuação dos agentes de segurança pública, para coibir as constantes violações de direitos dos cidadãos. As intervenções estatais não podem seguir ceifando a vida dos jovens negros. É preciso apurar rigorosamente o caso da morte do trabalhador Welson Macedo e punir os culpados, mas é preciso também que o Estado se debruce com prontidão sobre o problema corriqueiro da segurança pública na Bahia, que convoque a sociedade, por exemplo, para construir uma mesa propositiva e de diálogo permanente.

Texto escrito por:
Leninha Valente - Presidenta CUT Bahia
Gilene Pinheiro - Secretária de Relações do Trabalho
Ana Carla Fagundes - Secretária de Combate ao Racismo